quarta-feira, 18 de março de 2015

O sol voltou e dourou a minha pele. As sardas começam a ficar pontos mais escuros dispersos pela face e depois lá no meio estão os meus olhos. Que ficam escondidos pelas sardas e ainda bem. É que (sabem?) os olhos nunca mentem, e por vezes não apetece que nos perguntem se está tudo bem. Aquele tudo bem sentido, o tal das entranhas, que vem sincero querendo saber o que esconde o nosso sorriso alegre. Gosto do calor na minha pele, e gosto das conversas longas que já não sabem a frio, mas a vida. Sabem a momentos perdidos que recuperamos sofregamente depois de meses a fio sem reacção. Sabem a bolos quentes, acabadinhos de fazer, com o cheirinho que invade o prédio todo.
'- Cacau, sente-se o cheiro da tua casa desde o elevador.' É o cheiro de vida e de bolos, de biscoitos e alegria. De uma quiche feita com carinho, meia ensarilhada nos ingredientes, mas cujo sabor sabe bem e sempre a pouco. Sabe a bem-querer. Sabe a viver. E viver é bom. Não é?  
Uma manhã. Uma tarde. Dois casais. Um casal "nos vinte". Um casal "nos enta" (oitenta!). Quatro pessoas felizes com a vida. Dois casais de realidades sociais opostas. A manhã preenchida com perguntas sobre os  certificados a inglês da dona (eu!), que aliviam o medo e fazem confiar na escolha da doutora para a namorada. Um à-vontade educado, simpático, que me deixa de sorriso franco nos lábios. A tarde preenchida com um casal diferente. Um senhor delicado e uma senhora que lhe repetia as minhas palavras, "para ele perceber bem Doutora, que ele não ouve muito bem". Uma senhora cuidadosa e deliciosa que pergunta muitas coisas e arregala os olhos para nos ouvir, como que assimilasse assim melhor a informação.
Um ano que começou. E a vida que não é uma festa. Mas há festas na vida. Este dia soube a festa. Sei lá eu porquê...