sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Olá João!

'Long time, no see...'

Seria uma boa expressão para utilizar, mas... se é verdade que nunca passou tanto tempo sem que falássemos, não minto quando digo que a tua presença é uma constante na minha vida. Como poderia ser de outro modo? Como será que se está longe de alguém que nos motiva diariamente na construção dos nossos sonhos, mantendo o sorriso inabalável de quem acredita que as coisas vão dar certo? Como se aceita (quando acreditamos com as nossas entranhas a palpitar que tudo acontece por um motivo) tudo aquilo que aconteceu? Como se gere este sentimento de luta pelos nossos sonhos e ao mesmo tempo o sentimento de desânimo pelo inesperado que a vida traz e nos mutila? Eu não sei. Estou a descobrir acho...

(E depois há dias em que tudo parece irreal, e penso que estás numa caverninha, derretendo neve e comendo folhecas. Quem sabe afinal?)

Sabes que não tenho corrido? As montanhas começam a chamar, mas eu não sei se sou capaz. Fico a olhar para as minhas sapatilhas de trail (aquelas verdes, da moda, lembras-te?) e penso se tudo continuará a fazer sentido, lá em cima. Talvez seja medo. Mas sem medo... não há coragem, lembras-te? Os dias seguiram outro rumo, e continuo a treinar na Openbox, aquela de que te falei. Lá encontrei mais. Encontrei força para continuar. Partes do meu corpo que eu desconhecia. Até estou a tentar ser menos trapalhona vê lá tu... Nah, que lá é tudo pesado e faz mossa no corpinho!

(Às vezes, aquela box sabe a Marão, sabias? Não te rias, juro que sabe: até me consigo sentir feliz!)

Sinto saudades da tua voz. Às vezes, saio do treino e seria hora de te contar tudo. E tu me chamares louca, e dizeres que eu havia era de correr, porque o meu lugar é nesse teu mundo. Mundo esse que também é louco, e incompreendido pelos milhares de pessoas que apostam nos 'treinos do sofá', e que te apontaram o dedo por teres ido sozinho, desafiar os teus limites.

(Eu não sabia que tu tinhas limites para desafiar, sabias?)

Nesses dias, e no caminho (às vezes tão longo) para casa, percebo que já não posso falar contigo como antes, e não é raro que as lágrimas saltem pelos meus olhos descontroladamente. A música tende a aumentar de som nestas alturas, mas a luz dos semáforos mantém-se desfocada, até que eu chegue a casa. Esses dias... começam a ser menos frequentes. Passei a ficar mais tempo na box depois do treino e acabei por substituir as lágrimas por risos (que ainda não são dobrados), porque tu não sabes, mas aquele pessoal é demais! E depois, chego a casa, e tenho amigos (e um cão) que me animam os serões.

(Sim. Naquele studio onde eu moro, assim minúsculo, cabe mesmo muita gente, sabes? Não esbugalhes os olhos, que é assim mesmo como eu digo!)

A vidinha corre. Eu aproveito o máximo que posso de cada dia, mas anseio o dia em que o meu sorriso condiga com o brilho do meu olhar e com o sentimento do meu coração. Isso ainda não acontece, porque parece que está sempre lá uma sombra a enegrecer o meu coração. Mas... racionalmente, percebo: essa sombra é, afinal uma Luz! A prova viva de que conheço alguém que vale a pena conhecer. Alguém que deixou tudo para arriscar num sonho, para viver o sonho de pedalar e galgar cada pedaço de terra neste planeta, sem grandes luxos. Apenas o privilégio de chegar aonde muitos de nós nem sonham. És a prova Viva de que vale a pena viver para concretizar os nossos sonhos, e materializá-los de uma forma humana e linda como só tu sabias fazer.

Até já, João.